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quinta-feira, 27 de março de 2014

Em meu coração florescem palavras

(Desculpem pelo texto de cunho pessoal e sem nada realmente interessante acerca do mesmo. Tentei, de certa forma, resgatar meu estilo antigo de escrita, mais rebuscado, mais indiferente, porque acredito que decaí em minhas capacidades e isso me deprime - ainda mais.
Enfim, o esqueleto do texto é de 07/03. Eu dei uma arrumada nele agora.)


De todas as muitas palavras que são meus dedos capazes de imprimir, à minha língua chega sequer 1/3 de tudo. E de tudo que há em meu coração, arca transbordante de coisas que mal aprendi a conhecer, meus dedos são capazes de transformar em palavras muito menos que isso.
E eu, que toda a vida julguei-me tão excelente em construir castelos de ar e civilizações de nuvens, não consigo erguer para mim paupérrima cabana que possa me proteger de mim mesma.
Meu ser, que se ressente de sua estupidez, mas incapaz é de abandonar o irreal, vive a cantar que é excelente em criar outros seres do pó das palavras. Todavia, não conhece a si mesmo e não consegue fazer do pó alternativas para seu sofrimento. O pó passa, meu ser permanece.
Vive meu ser em ilha de si, exilado por mar tormentoso de sentimentos que desconhece, em terra árida que clama por algo que não sei dar. Vive, este meu ser, ao sabor das intempéries de si, sem ter onde se esconder da chuva ou do sol, das correntes ou do sereno.
Quase à míngua vive, devorando aquilo que não foi. Entretanto, é sabido por todos que ninguém consegue viver daquilo que não aconteceu. À beira da morte, bebe a desilusão e o fracasso, que impregnam nossa boca com o gosto agridoce e adstringente daquilo que se desejou, mas que sempre se soube que não conseguiria. Afogando-se nas ondas insondáveis de meus mares, vive meu ser.
As palavras que correm para meus dedos em minguados rios lexicais e que chegam a meus lábios em filetes miseráveis, impedem-me de, com a força dos bravios oceanos em mim, derrubar as barragens que me isolam.
E eu, que sempre me julguei tão verborrágica, vivo à beira da inanição inevitável, prestes a morrer no silêncio, quando, em meu peito, florescem palavras.

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